Pedro autografa sua biografia
Pedro Lobo de Oliveira nasce em 28 de julho de 1931 no bairro de Favorita, município de Natividade da Serra. Para fugir da miséria que assola a região, no início dos anos 50 ele abandona seu torrão natal em busca de um eldorado chamado Mato Grosso. No caminho, quase se torna escravo branco em uma plantação de bananas, trabalha como servente de pedreiro, metalúrgico, e acaba engajado na Força Pública, hoje Polícia Militar.
Contagiado pela luta ideológica que divide o mundo durante a Guerra Fria, o então sargento Lobo se converte ao socialismo e passa a militar no Partidão de Luís Carlos Prestes. Considerando-se um operário fardado — cuja ferramenta de trabalho é um fuzil —, ele adere à tese da luta armada e vai às últimas consequências quando ajuda
a fundar uma das mais ativas organizações guerrilheiras que atuam no país durante os
Anos de Chumbo.
Companheiro do lendário Capitão Carlos Lamarca e seguidor ardoroso das teorias foquistas de Ernesto Che Guevara, Pedro se converte em Getúlio ou Gegê, para mergulhar de cabeça na luta contra a ditadura implantada a ferro e fogo em março de 1964.
Odiado pelos militares por sua obstinação e bravura, o militante da Vanguarda Popular Revolucionária é preso e massacrado nos cárceres da repressão política. Solto durante as negociações pela libertação de um embaixador sequestrado, ele passará pela Argélia, Cuba, Chile e Argentina, antes de se fixar na Alemanha Oriental, do outro lado do que o Ocidente convencionou chamar de A Cortina de Ferro.
Sobrevivente de uma guerra sem regras, Pedro volta ao Brasil com a anistia e é reintegrado à Polícia Militar como se sua vida encerrasse um caprichoso ciclo. Hoje capitão, ele se mantém a postos para retomar a luta de resistência caso a democracia seja novamente ameaçada. Obstinação, desprendimento, aventura e muita emoção não faltam na memórias desse brasileiro de vida ímpar.
E a vida desse herói está registrada no livro Pedro e os Lobos - Os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano, que acaba de ser indicado finalista na categoria Reportagem do Prêmio Jabuti 2011.
Pedro Lobo nos tempos de cabo da Cavalaria
FRASES DE PEDRO TIRADAS DO LIVRO PEDRO E OS LOBOS
A gente queria fazer a revolução em benefício do humano e ali estava eu, tendo de matar.
O Brasil era cheio de latifúndios improdutivos enquanto a maioria dos camponeses não tinha onde plantar e vivia na mais absoluta miséria. Eu acreditava que, se dividindo a terra, seria possível aumentar a produção e ajudar o povo.
Nossa ideia era criar um clima de guerra civil com uma série de ações de impacto pra abalar as estruturas da ditadura. A gente queria mesmo criar o caos naquele 25 de janeiro".
Sobre a Noite de São Bartolomeu.
Se alguém da organização fumasse um baseado, Deus me livre. A gente expulsava o cara assim que soubesse.
A gente se sentia mesmo como super-homens, porque não havia nenhuma resistência. Entrava onde queria e tomava tudo o que queria. Todas as nossas ações foram vitoriosas. (...) Talvez, por isso mesmo a gente foi baixando a guarda, negligenciando, até ser presos daquela forma tão besta."
Eu me sentia um patriota, feliz por estar participando daquela guerra. Amava os companheiros, amava o povo, sentia o sofrimento do operariado, dos camponeses, e achava que algo tinha que ser feito contra a ditadura. Portanto, pra mim, a morte em combate ia ser como um prêmio. Se acontecesse de cair lutando, ia cair com orgulho, porque estava cumprindo meu dever sagrado de fazer a revolução.
A gente tinha que esconder aquela morte porque, se a ditadura descobrisse, ia fazer um bafafá danado. Fatalmente os policiais diriam:
— Olha a alma do terrorista como é: mata o próprio companheiro e ainda esconde o corpo da família.
(No Dops) eles continuavam a ameaçar a gente de morte. Então, para manter o moral alto, eu disse:
Seu general, se um dia o senhor tiver que me fuzilar, tenho um pedido a fazer!
— Qual é ele, Lobo?
— Que eu possa comandar meu próprio fuzilamento.
No primeiro de maio, tentamos cantar a Internacional Socialista. Os soldados do Exército calaram então as baionetas e ficaram passando as lâminas nos ferros das grades, ameaçando a gente ferozmente. Aquilo fazia um barulhão danado. Naquele dia, achei que ia morrer.